Trancoso, Cogula, Trancoso

Cogula

Cogula foi uma das povoações doadas pelo infante D. Pedro, ainda durante o reinado de seu pai, D. Afonso V, aos irmãos da sua bem amada Inês de Castro. Devido a esse facto, este povo, ao longo dos séculos, tem vindo a dizer: “Cogula é terra dos Castros”.

Se Cogula é terra dos Castros (apelido), é-o também de um castro lusitano que se situava na confluência das ribeiras das Moitas e do Freixo, afluente do Massueime. Há quem atribua a fundação do primitivo castro aos túrdulos, no século VII a. C.. Este povo, oriundo da Bética, antiga província da Espanha meridional, a leste da Turdetânia (Andaluzia), viria a ser desalojado dessa posição cerca de 580 a. C., por uma tribo celta, sendo obrigado a procurar refúgio no planalto de Trancoso, no vale situado entre o Chafariz do Metoque e Courelas. Pouco depois, acabariam por se unir aos seus irmãos de raça do castro pastoril de Trancoso, formando um forte núcleo populacional. Seria também, como se verá, o início de uma prolongada conjugação de esforços entre as gentes de Cogula e as de Trancoso.

O castro seria ocupado e posteriormente fortificado pelos romanos que viriam a fazer um intensivo aproveitamento dos recursos das terras de Cogula, deixando vários vestígios da sua presença. Com efeito, há quase cem anos, foram encontradas no sítio do castelo uma inscrição funerária, capitéis de coluna, mós, cerâmica doméstica, tegulae e imbrices. A estela funerária, que foi oferecida a José Leite de Vasconcelos, passando deste para o Museu Etnográfico de Lisboa, foi descrita pelo “pai” da etnografia portuguesa no seu “Religiões da Lusitânia”. A inscrição em latim, traduzida, diz: “Consagrado aos Deuses Manos. A Apana, filha de Reburris, de 19 anos, tiveram o cuidado de mandar fazer, seu esposo Albino e Antoninis Macuela”.

A conjugação de esforços e a comunhão de sentimentos entre os de Cogula e os da vila foi tão prolongada que em meados do século XVIII, nas informações paroquiais de uma das freguesias da vila, era registada uma forte ligação, pois “tem esta villa em seu campo huma capella de Sancta Luzia, que he cabeça de Reytoria do lugar da Cogula deste termo”. Também o pároco de Cogula referia que “nesta vila (Trancoso) está a igreja Matriz desta vigairaria, a Senhora Santa Luzia que está tam desbaratada que ja la nam vivem os Vigarios ha muitos anos e vive no Lugar de Cogula”. O Padre José informava ainda que a sua vigairaria era apresentada por Sua Majestade e era uma comenda de João Pedro Mendonça Corte Real.

Os habitantes de Cogula colaboraram nas obras da capela-mor que “não existiria se a devoção dos Moradores a Santa Luzia a não tivessem com algum reparo”, da mesma maneira que já o tinham feito por diversas vezes noutras ocasiões. Participaram com o seu dinheiro e esforço para as fortificações da vila e em 1584, tendo que se proceder à reconstrução da muralha do lado norte que tinha ruído e ao entaipamento e desentaipamento da Porta do Carvalho, “todas estas obras foram feitas pelos da Cogula”, conforme inscrições gravadas na referida porta e no interior da muralha.

No ponto mais alto de Cogula, donde se desfruta uma bela panorâmica, ergue-se a linda e secular capela de S. Silvestre. De boa cantaria, era aqui que outrora se realizavam as grandes solenidades da freguesia. Apresenta um característico alpendre com um púlpito que o povo sempre venerou como coisa sagrada, veneração que se estende à ermida e seu orago.

Localização: Cogula é um aglomerado rural, situado numa encosta. Fica na E.M 591 fora dos percursos principais do concelho, mas na proximidade da E.N 102 que é estrada principal do Concelho. Dista 14 km de Trancoso e 12 km da estação dos caminhos-de-ferro de Vila Franca das Naves